Vida!

Um parto por várias mãos

No bairro Areal, bebê nasceu com apoio de um casal de deficientes que foi instruído pelos bombeiros por telefone

Carlos Queiroz -

Carlos Queiroz 81816Depois do nascimento de Andressa, militar foi conhecer as famílias (Foto: Carlos Queiroz)

Quando o assunto é ajudar quem precisa, não há limitações. Esse é o lema do casal Vivian e Régis Lopes. Ela é deficiente visual e ele precisa de muletas para se locomover, após um acidente de trabalho. No último dia 17, o destino reservou uma surpresa à dupla: realizar o parto da vizinha Vanessa Santos, que deu à luz a pequena Andressa.

Até junho, Vanessa não sabia que estava grávida do quinto filho, então não imaginava que a chegada da menina estivesse tão próxima, e por isso não possuía fraldas nem enxoval. No dia do nascimento, a partir das 11h as primeiras contrações começaram a aparecer, e como estava sozinha em casa, a moradora do 5° andar do condomínio Azaleia, no bairro Areal, precisou recorrer aos vizinhos. Ela conta que pelas dificuldades do casal, resolveu descer até o apartamento deles para pedir socorro, mesmo estando em trabalho de parto. A intenção era que os amigos a levassem até o hospital, mas quando chegou, as dores aumentaram e Vivian percebeu que o parto iria acontecer nos próximos minutos.

Enquanto Régis ligava para os bombeiros para pedir instruções, Vivian, apesar da deficiência visual, foi quem prestou todo auxílio e contribuiu para a chegada de Andressa ao mundo, que nasceu no apartamento dos vizinhos no dia 17 deste mês, às 11h35min, medindo 48 centímetros e pesando 2,950 quilos. Mas havia mais uma surpresa pela frente. Na hora em que a costureira aposentada pegou a recém-nascida nos braços, sentiu que o cordão umbilical estava enrolado no pescoço, e auxiliada pelo marido, que ouvia as recomendações do bombeiro por telefone, conseguiu realizar o procedimento necessário. Mais uma vez, a deficiente visual foi protagonista na vida da pequena.

"Um filme passava na minha cabeça", esse era o único pensamento da mãe momentos antes de poder ouvir o primeiro choro da filha. Ela conta que apesar do medo, se controlava para não deixar ninguém nervoso. "Não queria ver quem estava me ajudando em pânico", disse. O sentimento que toma conta no apartamento da família Santos nos últimos dez dias é gratidão, tanto com a equipe de bombeiros que ajudou por telefone, quanto ao casal de amigos. "A gente só quer agradecer todo mundo que viveu esse milagre", ressaltou.

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Corporação levou fraldas e roupas para a menina Andressa no Azaleia (Foto: Carlos Queiroz)

Quem atendeu o telefonema de Régis foi o soldado Vladimir de Cantos. A principal função desempenhada por ele durante o atendimento foi tranquilizar a família e instruir cada passo que deveria ser seguido à realização do parto. "Falei para apoiar na hora da saída, verificar sinais vitais e cordão umbilical", relembrou. A tentativa do soldado, que vem recebendo destaque entre a corporação, foi emitir todo conhecimento estudado para a situação e assim "efetuar esse milagre".

A família, que conheceu apenas a voz de Cantos, tinha um desejo: agradecer pessoalmente o serviço prestado por ele. E foi na tarde ensolarada da última quinta-feira que esse encontro aconteceu. Os Santos foram surpreendidos pela visita de uma parte da corporação, que em uma ação entre amigos arrecadou fraldas e roupas para a mais nova menina da casa. "Não existem palavras para agradecer", disse a mãe. Para o soldado, o momento foi indescritível. "Desenvolvemos a nossa função no automático, e quando enxergamos a realidade percebemos o tamanho do nosso trabalho." Pai de uma menina de um ano e três meses, o militar não consegue falar da história sem a voz embargar. A missão do corpo de bombeiros é salvar e proteger, mas são em casos como esse que é percebido o reconhecimento da profissão.

web_JF2389Os pais (E) convidaram Régis e Vivian para serem os padrinhos da pequena (Foto: Jô Folha)

Surpresa e alívio
O pai de Andressa, André Luiz Santos, estava nas ruas vendendo os salgados que a esposa fabrica quando tudo aconteceu. Como Vivian acompanhou Vanessa até o hospital, o responsável por dar a notícia foi Régis. Quando chegou no condomínio, ele já avistou a ambulância e ficou aflito, mas quando soube da novidade, a felicidade tomou conta. "Chegou a minha princesa", relembrou.

Para Vivian, a única palavra que definiu o momento foi emoção. Segundo ela, que nunca imaginou passar por uma situação desse tipo, o procedimento foi uma sequência de instantes perfeitos. "A Andressa chegou para reinar as nossas vidas", afirmou emocionada. Vivian é vítima de uma doença chamada ceratocome, que compromete o formato da córnea e pode levar à cegueira. Desde 2015 o caso dela se agravou e há três anos está na fila esperando por um transplante de córnea. Já Régis teve uma paralisia infantil que comprometeu toda musculatura do lado esquerdo do corpo, mas foi em 2012, em um acidente de trabalho, que fraturou o fêmur, e desde então necessita das muletas.

Laços para sempre
O casal conta que, até hoje não consegue ficar um dia sequer sem falar do ocorrido, e por consequência se emociona. "A imagem vem na cabeça sempre", lembraram. As famílias se aproximaram há aproximadamente seis meses, e acreditam que esse encontro sempre teve um propósito. "Estamos sempre juntos, nas boas e nas ruins", contaram. E para celebrar essa amizade, Régis e Vivian foram convidados para serem padrinhos de Andressa. "Agora, o laço é eterno".

Confira o encontro dos bombeiros com o casal, a mãe e a filha:

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